Problemas comuns ao tabagismo
O fumo causa uma grande variedade de doenças que põem a vida em risco, incluindo câncer de pulmão, enfisema e doenças cérebro/cardiovasculares. É estimado que 430.000 óbitos por ano sejam diretamente causados pelo tabagismo. O fumo é responsável por alterações em todas as partes do organismo, incluindo o sistema digestivo. E isto pode ter conseqüências sérias. As estimativas atuais indicam que cerca de um terço dos adultos fumam. Mais do que isto, os adultos parecem estar fumando menos, mas mulheres e adolescentes de ambos os sexos parecem estar fumando mais. Como o tabagismo afeta o aparelho digestivo de todas estas pessoas?
Efeitos Danosos
Tem sido demonstrado que o fumo tem efeitos danosos em todas as partes do aparelho digestivo, contribuindo para doenças como refluxo gastroesofágico e úlceras pépticas. Ele também aumenta o risco de Doença de Crohn e possivelmente de cálculos na vesícula biliar. O fumo parece afetar também o fígado, ao alterar a forma como ele metaboliza drogas e álcool. De fato, parece haver razão suficiente para parar de fumar considerando-se somente as doenças do aparelho digestivo.
Azia
Azia é um sintoma muito comum. Milhões de brasileiros sofrem diariamente com este desconforto. A azia ocorre quando os sucos ácidos do estômago refluem para o esôfago. Normalmente, uma válvula muscular no final do esôfago, chamada esfíncter inferior do esôfago, mantém o ácido no estômago, impedindo sua subida ao esôfago. O fumo diminui a força desta válvula, permitindo assim que haja o refluxo ácido. O fumo também parece promover o movimento de sais biliares do duodeno para o estômago, o que faz o suco gástrico ficar ainda mais prejudicial ao esôfago. E, por fim, o fumo pode danificar diretamente o esôfago, tornando-o mais vulnerável aos efeitos dos fluidos refluídos.
Uma úlcera péptica é uma lesão no revestimento do estômago e duodeno. Existe uma relação das úlceras (especialmente as duodenais) com o tabagismo. As úlceras parecem ocorrer com mais freqüência, com maior dificuldade para cicatrização, e com maior mortalidade em fumantes do que em não fumantes. E por que isto acontece? Os médicos não têm certeza, mas o fumo parece ser um dos fatores que, em conjunto com outros, promovem a formação das úlceras. Por exemplo: pesquisas sugerem que o fumo aumentaria o risco de uma pessoa possuir a infecção pelo Helicobacter pylori, uma bactéria que causa a maioria das úlceras pépticas.
O ácido gástrico também é importante na produção das úlceras. Normalmente, a maioria deste ácido é tamponada pelos alimentos que ingerimos. A maior parte do ácido que não foi neutralizado e que entra no duodeno é rapidamente neutralizada pelo bicarbonato de sódio produzido pelo pâncreas. Alguns estudos demonstram que o tabaco reduz a quantidade de bicarbonato produzida pelo pâncreas, interferindo assim com a neutralização de ácido no duodeno. Outros estudos sugerem que o tabagismo crônico poderia aumentar a quantidade de ácido secretada pelo estômago.
Não importando as causas exatas da relação entre fumo e úlceras, dois pontos já foram demonstrados repetidas vezes: pessoas que fumam têm maior possibilidade de desenvolver uma úlcera, especialmente duodenal; e úlceras em fumantes têm menor probabilidade de cicatrizar rapidamente em resposta ao tratamento habitualmente efetivo. Estes dados, que demonstram a relação entre fumo e úlceras, sugerem fortemente que pessoas ulcerosas devem parar de fumar.
O fígado é um importante órgão, com múltiplas funções. Entre outras coisas, o fígado é responsável pelo processamento de drogas, álcool e outras toxinas para removê-los do organismo. Há algumas evidências de que o tabaco altera a capacidade do fígado de manejar tais substâncias. Em alguns casos, isto pode influir na dose de um medicamento necessária para tratar alguma doença. Pesquisas também sugerem que o fumo pode agravar a evolução de doenças hepáticas causadas por abuso alcoólico.
A Doença de Crohn causa uma inflamação nas paredes do intestino. A doença, que causa dor e diarréia, geralmente afeta o intestino delgado, mas pode ocorrer em qualquer parte do tubo digestivo. As pesquisas demonstram que fumantes atuais e ex-fumantes têm um risco maior de desenvolver Crohn do que não fumantes. Entre as pessoas com a doença, o tabagismo é associado com uma taxa maior de recidiva e maior necessidade de cirurgias e tratamento imunossupressor. Em todas as áreas, o risco para mulheres – seja fumantes ativas ou ex-fumantes – é discretamente maior do que para homens. Não se sabe por que o fumo aumenta o risco para a doença, mas algumas teorias sugerem que o fumo poderia diminuir as defesas dos intestinos, diminuir o fluxo de sangue para os intestinos, ou causar alterações no sistema imune que resultam em inflamação.
Vários estudos sugerem que o fumo pode aumentar o risco de desenvolvimento de cálculos biliares e que o risco pode ser maior para mulheres. Entretanto, os resultados de pesquisas neste campo não são consistentes, e mais estudos são necessários.
O dano pode ser revertido?
Alguns dos efeitos do fumo no aparelho digestivo parecem ter curta duração. Por exemplo: o efeito na produção de bicarbonato pelo pâncreas tem curta duração. Dentro de meia-hora depois de fumar, a produção de bicarbonato volta ao normal. Os efeitos do tabagismo sobre o metabolismo hepático de drogas também desaparecem quando a pessoa pára de fumar. Entretanto, pessoas que param de fumar permanecem sob risco para Doença de Crohn. Claramente, esta questão necessita de maiores estudos.