Centro Brasiliense de Cirurgia e Endoscopia

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HELICOBACTER PYLORI

O QUE É?

O H. pylori é um organismo espiral, multiflagelado, unipolar, com terminações arredondadas abruptas, que vive sobre a parede do estômago humano onde fica curvado ou discretamente espiralado. Quatro a seis flagelos embainhados estão ligados a um pólo, o que permite movimentar-se por entre o muco e na superfície da célula do estômago.

O único hospedeiro natural é o homem. A bactéria é um organismo altamente evoluído que se adaptou para sobreviver na mucosa gástrica humana.

O nicho ecológico preferido pelo H. pylori é uma região do estômago chamada de antro gástrico. A bactéria também pode ser encontrada no corpo, mas o antro é o seu habitat normal. 

O ESTÔMAGO TEM UM AMBIENTE MUITO ÁCIDO. COMO UMA BACTÉRIA CONSEGUE VIVER NESTE LOCAL?

A característica desenvolvida pela bactéria para enfrentar este ambiente é a habilidade para produzir grandes quantidades de uma enzima denominada urease. Esta enzima transforma a uréia livre que existe no suco gástrico em amônia e dióxido de carbono, que são básicos. Uma névoa de amônia neutraliza, então, o ácido, protegendo a bactéria do seu ataque na luz do estômago. Devido à sua forma espiral e a presença de flagelos o H. pylori tem grande mobilidade em soluções viscosas. A motilidade ativa provavelmente promove a sua rápida penetração na camada de muco que recobre as células do estômago antes de atingir o ambiente neutro que recobre a superfície do epitélio gástrico. Neste local, denominado “paraíso seguro”, ele está protegido dos efeitos deletérios do ácido gástrico.

O QUE A BACTÉRIA CAUSA NO ESTÔMAGO?

A primeira conseqüência da infecção pelo H. pylori no homem é o desenvolvimento de gastrite. Ela também pode causar úlcera no estômago e no duodeno. É discutível o seu papel nas chamadas dispepsias funcionais (dor, estufamento, inchaço, sensação de saciedade precoce). Ela é considerada como um dos fatores predisponentes para câncer do estômago juntamente com outros fatores (história familiar de câncer do estômago, fatores ambientais, etc.) e ao linfoma gástrico.

COMO PODE SER DIAGNOSTICADA UMA INFECÇÃO PELO H. PYLORI?

A detecção do H. pylori para o diagnóstico inicial pode ser realizado através de uma variedade de métodos. Estes métodos podem ser divididos em invasivos (aqueles que precisam de endoscopia) e não-invasivos (não precisam a endoscopia). O exame invasivo (durante uma endoscopia) e o mais comumente realizado é o teste da urease. É um exame de fácil realização, confiável e barato. Os outros testes são realizados excepcionalmente, isto é, quando o teste da urease foi negativo (ausência da bactéria) e existe necessidade absoluta de confirmar este resultado. Podem ser utilizados, então, a histologia (invasivo) e o teste respiratório (não invasivo). Em pessoas cujo H. pylori nunca foi tratado também pode ser utilizado o teste sorológico.

COMO A BACTÉRIA É TRANSMITIDA? 

As rotas de infecção não são totalmente conhecidas. Cerca de 70 a 80% da população de países em desenvolvimento possuem o H. pylori em seus estômagos, mas nem todos desenvolvem qualquer tipo de doença relacionada a ela.

Os pesquisadores pensam que elas possam ser através do alimento ou água. Foram encontrados H. pylori na saliva de algumas pessoas infectadas, de maneira que a bactéria pode se transmitir através do contato boca a boca, como o beijo. Vários estudos demonstraram que o parceiro de uma pessoa H. pylori positiva tem um maior risco de infecção. Muitas infecções são transmitidas dos pais para suas crianças. A unidade familiar, então, é outro local para a transmissão do H. pylori. Os fatos acima relatados (água, infecções em famílias e instituições) sugerem, também, que a rota fecal-oral é um importante mecanismo de transmissão. 

QUANDO SE ADQUIRE A BACTÉRIA?

A infecção pelo H. pylori, à luz dos conhecimentos atuais, a menos que seja tratada e erradicada, pode ser considerada como uma infecção da criança que durará a maioria ou toda sua vida, e eventualmente, em algumas pessoas, em virtude de outros fatores de risco que necessitam ser definidos, contribuirá para o desenvolvimento de doenças do estômago e do duodeno. Após a infância, é mais difícil de adquirir o H. pylori.

QUAL O MAIOR FATOR DE RISCO PARA ADQUIRIR A INFECÇÃO?

O maior fator de risco para a infecção pelo H. pylori parece ser o nível sócio-econômico da família da criança. Nos países em desenvolvimento, as pessoas tornam-se infectadas mais precocemente que em países desenvolvidos. Assim, em países em desenvolvimento quase todas as crianças estão infectadas aos 10 anos de idade. Nos países desenvolvidos as famílias de crianças de mais baixo nível sócio-econômico estão infectadas. Estas crianças permanecerão infectadas por toda sua vida. De uma maneira singular, para um país em particular, pode-se fazer um paralelo entre a taxa de infecção pelo H. pylori e o seu desenvolvimento econômico o qual conduz a melhores condições de vida e, em particular, melhora as condições de higiene. Isto significa que, em locais mais desenvolvidos, pessoas mais idosas, por viverem numa época em que as condições de higiene não eram tão boas, tenderão a ter maior índice de infecção que pessoas nascidas mais recentemente. É importante saber, então, ao se investigar uma pessoa infectada, qual era o seu nível sócio-econômico quando criança ou adolescente e não o seu nível atual. Dados recentes mostram que a falta de água quente corrente (encanada) na casa, aglomeração de pessoas (creches, etc.) e dividir a cama com outra(s) pessoa(s) são fatores que permitem predizer uma maior taxa de infecção pelo H. pylori.

DEVE SER FEITO CONTROLE DE ERRADICAÇÃO DA BACTÉRIA APÓS O TRATAMENTO?

Existem controvérsias a respeito do valor de se realizar testes pós-tratamento para determinar se o H. pylori persiste depois de completado um curso de tratamento com antibióticos. Existe indicação absoluta para sua realização quando a pessoa teve um curso desfavorável de uma doença por ele causada, úlcera péptica complicada, por exemplo, (hemorragia ou perfuração) ou outra doença que seja necessário ter certeza que a bactéria foi eliminada.

Atualmente a recomendação é realizar o controle após 3 meses do tratamento. Antes desse período mesmo que erradicada pode-se encontrar restos o que pode proporcionar um resultado falso positivo na análise.

Mais de 90% das pessoas têm a bactéria erradicada com os tratamentos atuais. O teste de preferência é o respiratório, não disponível na imensa maioria das cidades do nosso país. A opção, nestes casos, seriam os testes invasivos (teste da urease mais histológico), com o desconforto de realizar uma nova endoscopia. São todos exames caros.

COMO SÃO TRATADAS AS ÚLCERAS PÉPTICAS RELACIONADAS AO H. PYLORI?

O tratamento geralmente envolve uma combinação de antibióticos e supressores de ácido, podendo, em alguns esquemas, poderem ser utilizados os protetores do estômago. Os regimes de antibióticos recomendados para pacientes diferem nas diferentes regiões do mundo porque em áreas diferentes podem ocorre o início de resistência a algum antibiótico em particular e pelo custo (caro) dos diversos esquemas.

O uso de um único medicamento para tratar H. pylori não é recomendado. Até o presente momento, o tratamento provado que se mostrou mais eficiente nos Estados Unidos é a chamada terapia tríplice, administrada por 2 semanas. Ela se baseia em tomar dois antibióticos para matar a bactéria e um supressor de ácido ou um protetor da parede do estômago. Duas semanas de terapia tríplice reduzem os sintomas de úlcera, mata a bactéria e previne a recidiva em mais que 90% dos pacientes.

Infelizmente, os pacientes podem achar a terapia tríplice complicada porque necessita tomar 8 comprimidos por dia (em alguns esquemas até 20). Também, os antibióticos usados na terapia tríplice podem causar efeitos colaterais leves como náuseas, vômitos, diarréia, fezes escuras, gosto metálico, tonturas, dor de cabeça e infecções por fungos em mulheres (a maioria destes efeitos pode ser tratada com a retirada dos medicamentos).

Entretanto, estudos recentes nos Estados Unidos mostram que 2 semanas de terapia tríplice é o ideal.

Estudos anteriores em outros países sugerem que uma semana de terapia tríplice pode ser tão eficiente quanto a terapia de 2 semanas, com menos efeitos colaterais (e mais barato).

Outra opção é duas semanas de terapia dupla. Ela utiliza duas drogas: um antibiótico e um supressor de ácido. Não é tão eficiente quanto à terapia tríplice.

Duas semanas de terapia quádrupla, a qual utiliza dois antibióticos, um supressor de ácido e um protetor da parede do estômago, é utilizada quando os esquemas anteriores falharam em erradicar a bactéria.