Já faz tempo que a obesidade deixou de ser um problema meramente de ordem estética e foi alçado para a categoria de doença crônica.
A situação é tão alarmante que doença já até ganhou status de epidemia. A estimativa é que em 2030 o mal aumente 70% nos Estados Unidos (mais da metade já esta obesa), 50% na Inglaterra e 30% no Brasil. Por aqui, uma pesquisa realizada pelo IBGE identificou que, pelo menos, 38 milhões de brasileiros são obesos. A ala masculina é a mais afetada somando 41% dessa farta fatia da população.
A maior autoridade de saúde dos Estados Unidos, o Surgeon General afirma que desde 1980 o número de crianças obesas dobrou (cerca de 14% estão obesas) e o de adolescentes triplicou no país.
Embora o fator genético contribua para desenvolver esse mal, as principais causas da doença ainda recaem sobre o consumo crescente de comidas com alto valor calórico, ricas em gorduras saturadas e açúcares, além de atividade física reduzida, ou seja, sedentarismo.
A OMS calcula que, aproximadamente, 90% das pessoas com diabetes tipo 2 são obesas ou têm excesso de peso. Ter um IMC acima do ideal contribui para cerca de 58% do diabetes, 21% das cardiopatias isquêmicas e entre 8% e 42% de determinados tipos de câncer, como os de mama, cólon, próstata, endométrio, rins e vesícula biliar.
No entanto nem todas as pessoas, com peso acima do normal, apresentam a mesma gama de problemas e, portanto as soluções para cada uma são diferenciadas. Por este motivo, desde 1983, procura-se avaliar as condições nutricionais de uma pessoa e diferenciar os obesos utilizando um índice que é denominado de Índice de Massa Corpórea ou IMC, que é calculado dividindo-se o peso em quilogramas (Kg) pelo quadrado da altura em metros (m).
O IMC ideal está entre 18,5 e 24,9. Entre 25 e 29,9 chamamos de sobrepeso ou obesidade leves, e um IMC maior que 30 caracteriza uma obesidade propriamente dita, já se observando um maior risco para o desenvolvimento de doenças relacionadas à obesidade. Um IMC maior que 40 indica uma obesidade mórbida e são pacientes onde está indicado o tratamento cirúrgico.
O tratamento da obesidade deve dirigir-se objetivando melhora do bem-estar e da saúde metabólica do indivíduo, diminuindo os riscos de doença na vida futura. Embora com freqüência a obtenção de resultados cosméticos seja parte das expectativas do paciente, isto não é o objetivo primário do tratamento.
A idéia de sucesso no tratamento da obesidade tem sido modificada com observações tal com perdas modestas de peso (da ordem de 5 a 10%) podem produzir ganhos significantes para a saúde (melhorar a pressão arterial, o diabetes e o número de apnéias), e melhorar a qualidade de vida. Com isso deve-se redefinir como sucesso num tratamento para obesidade “reduzir a gravidade da obesidade” em vez de “normalizar o peso corporal”, sendo que até mesmo a estabilização sem perda de peso representa um modesto sucesso.
1- Tratamento dietético
A maior parte dos tratamentos dietéticos da obesidade envolve redução da ingestão calórica, baseado na avaliação dos hábitos alimentares, o que também norteará a escolha do melhor agente farmacológico, quando indicado.
Na prática, a maior parte dos pacientes obesos apresenta muita dificuldade de adesão em longo prazo.
2- Tratamento comportamental
Baseia-se em avaliar e adequar a motivação do paciente, avaliar e adequar desajustes do comportamento alimentar (compulsões alimentares, alimentação secundária a apelos de ordem emocional) e avaliar e adequar o grau de atividade física (como reduzir o tempo sentado e o uso do automóvel, o uso da escada ao invés do elevador).
Objetiva então controlar o estímulo à alimentação ou os gatilhos que deflagram o início da ingestão de alimento e aumentar o auto-controle; e tem seu lugar independente do uso de outros adjuvantes como medicação antiobesidade.
3- Exercício e atividade física
Tanto a atividade física não programada quanto os exercícios (atividade física programada) têm sua importância no tratamento da obesidade, e na manutenção do peso após o período de perda de peso.
4- Tratamentos “alternativos”
Os tratamentos a seguir não apresentam comprovação científica que assegurem eficácia e segurança, e que suportem o seu uso no tratamento da obesidade, tendo sido considerados pelo “I Consenso Latino – Americano de Obesidade” terapias não recomendáveis para tal: acupuntura, auriculoterapia, cremes para celulite, massagens com creme, inclusive endermologia, fitoterapia, mesoterapia ou enzimoterapia, terapia “ortomolecular”, formulações magistrais “naturais”.
5- Tratamento farmacológico
O tratamento farmacológico da obesidade está indicado na presença de índice de massa corpórea maior que 25 Kg/m2 com doenças associadas ou com IMC > 30 Kg/m2 isoladamente.
Hoje há uma quantidade de medicamentos para o tratamento da obesidade, mas que em resumo podem ser divididos em 3 grupos: medicamentos que diminuem o apetite agindo no sistema nervoso central, medicamentos termogênicos e medicamentos que afetam a absorção de nutrientes.
6- Balão Intra-Gástrico (BIG)
O sistema de balão intragástrico (BIG) é uma alternativa não-cirúrgica e não farmacológica para o tratamento da obesidade.
Estudado desde 1982 o BIG foi projetado para induzir a perda de peso em pacientes obesos, através do preenchimento parcial do estômago induzindo a sensação de saciedade, promovendo com isso uma diminuição da ingesta alimentar e a adoção de um novo hábito dietético.
Está indicado para uso temporário em:
- Obesos moderados que possuem outras doenças relacionadas à obesidade (diabetes, doenças cardio e cerebrovascular, alterações da coagulação, doenças articulares, câncer de diversos locais, cirrose hepática, apnéia do sono, etc.) e não obtiveram sucesso com um programa de perda de peso apenas;
- Obesos severos (obesidade mórbida) em pré-operatório do tratamento cirúrgico, para reduzir o risco operatório;
- como único tratamento para pacientes com doenças cardio-respiratórias severas;
- com intenção estética para pacientes pouco obesos (glutões) que vivem em regimes e no famoso efeito sanfona, juntamente com acompanhamento nutricional e psicológico.
Feito de um silicone durável, liso, sem costura, elástico, de alta qualidade e resistente a secreção gástrica (ácida), o BIG é colocado endoscopicamente dentro do estômago, sem internação, sendo cheio com 600 a 800 ml de solução fisiológica 0,9% mais anilina estéreis, onde pode permanecer por um período de até 6 meses.
Além disso, é visualizável por fluoroscopia (Rx) através de sua válvula radiopaca, e é totalmente desinsuflável e retirável por endoscopia.
É importante deixar claro que sucessivos balões podem ser colocados para prolongar o tratamento, mas o BIG deve ser usado em conjunto com uma dieta supervisionada (nutricionista) e um programa de mudança de comportamento (psicólogo ou psiquiatra) para ajudar manter o peso ou a perda de peso após a remoção do balão.
7- Tratamento cirúrgico (cirurgia bariátrica)
Este tipo de tratamento é considerado em pacientes obesos mórbidos resistentes ao tratamento clínico.
O objetivo do tratamento cirúrgico é o de reduzir o peso em níveis nos quais os riscos da obesidade se tornem aceitáveis e mortalidade seja próxima à da população não obesa.
As indicações cirúrgicas aceitas para o tratamento cirúrgico da obesidade mórbida são: pacientes com IMC > 40 ou peso corporal 45 Kg acima do peso ideal mantido por período mínimo de 5 anos; e pessoas com IMC entre 35 e 40 que apresentam doenças associadas.
Há várias técnicas cirúrgicas, mas as mais utilizadas atualmente baseiam-se na restrição do volume do estômago, a qual pode ser feita com a secção do mesmo quando se associa também um procedimento dissabsortivo, ou com o uso de uma cinta regulável (banda gástrica) – procedimento exclusivamente restritivo onde não há corte em nenhum segmento do aparelho digestivo – de acordo com a necessidade de perda de peso.
O que temos observado com grande freqüência em nossa prática clínica é a presença de pacientes que se submeteram e/ou estão prestes a se submeter a um procedimento mais radical, a famosa redução de estômago, sem terem sido informados da existência de outros métodos menos radicais, que a princípio produzem uma menor perda de peso, mas em compensação não se tratam de procedimentos definitivos, e nem que “impedem” a realização de outros procedimentos em caso de falha.
Baseados em nossa prática, na experiência da literatura mundial e amparados por um novo conceito de sucesso no tratamento da obesidade, exposto acima, é que temos investido em procedimentos menos radicais, mas que visam primeiramente a uma melhora na qualidade de vida e nunca em produzir distúrbios que a piorem tais como reportagem descrita na revista veja que mostra vários pacientes que se submeteram a operação de redução de estômago em desenvolveram inúmeros distúrbios psiquiátricos entre eles o alcoolismo, depressão, suicídio.