O Conselho Federal de Medicina emitiu o Parecer no 12/2007, sobre a auto-hemoterapia, em que afirma não haver comprovação científica da eficácia do procedimento. Sua emissão decorreu de solicitação, em junho, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A Anvisa buscou a opinião das autoridades médicas sobre o procedimento porque essa terapia se tornou bastante popular: é oferecida a baixo custo, inclusive em farmácias, com a promessa de curas milagrosas para doenças graves como câncer e aids – o que não é comprovado pela ciência, de acordo com o parecer.
A auto-hemoterapia, definida como tratamento de certas doenças pela retirada e nova injeção do sangue no próprio paciente, vem sendo utilizada indiscriminadamente, o que preocupa o governo.
O documento foi produzido pelo médico e professor de Clínica Médica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Munir Massud. Para sua elaboração, considerou que a medicina fundamenta-se em informações objetivas, testadas e confirmadas. Assim, analisou diversos estudos, artigos e revistas científicas disponíveis sobre o tema, da década de 30 até o presente momento. A bibliografia pesquisada inclui publicações em inglês, polonês, russo, alemão, chinês, espanhol, francês e italiano. Foram consultados os abstracts disponíveis na base de dados Medline, que tem 11 milhões de citações e resumos da literatura médica, bem como a literatura existente sobre todas as modalidades de auto-hemoterapia, como a ocular (subconjuntival), o procedimento em que o sangue é submetido à ação de agentes como ozônio ou irradiação UV, e outra em que o sangue é retirado da veia e administrado por via peridural, conhecida como tampão sangüíneo peridural – além da auto-hemoterapia propriamente dita.
Após as análises, o parecerista constatou, sobre a auto-hemoterapia, que “não há comprovação de sua efetividade, nem de sua segurança”.
O parecer conclui que “não existem estudos relativos à auto-hemoterapia desde a sua proposição como recurso terapêutico na primeira metade do século XX até os dias atuais” e que “não há evidência científica disponível que permita a sua utilização em seres humanos”.
De acordo com o presidente do Conselho, Edson de Oliveira Andrade, o CFM promete rigor para os médicos que adotarem o procedimento: “Os que o praticarem deverão ser denunciados, para serem processados por isso. Trata-se de uma falácia, que não tem valor científico e não pode ser aceita. Cabe ao CFM alertar a população que isso não deve ser feito, pois pode vir a complicar a saúde do paciente”. O parecer foi enviado à Anvisa neste mês de dezembro. A Agência informou que, primeiramente, irá analisar o documento para, posteriormente, decidir, com segurança, que providências adotar.